"Vale
a pena, também, mencionar dois outros efeitos que a mídia produz em
nossas mentes: a dispersão da atenção e a infantilização.
Para
atender aos interesses econômicos dos patrocinadores, a mídia divide a
programação em blocos que duram de sete a dez minutos, cada bloco sendo
interrompido pelos comerciais. Essa divisão do tempo nos leva a
concentrar a atenção durante os sete ou dez minutos de programa e a
desconcentrá-la durante as pausas para a publicidade.
Pouco
a pouco, isso se torna um hábito. Artistas de teatro afirmam que,
durante um espetáculo, sentem o público ficar desatento a cada sete
minutos. Professores observam que seus alunos perdem a atenção a cada
dez minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa que dão a si
mesmos, como se dividissem a aula em “programa” e “comercial”.
Ora,
um dos resultados dessa mudança mental transparece quando criança e
jovem tentam ler um livro: não conseguem ler mais do que sete a dez
minutos de cada vez, não conseguem suportar a ausência de imagens e
ilustrações no texto, não suportam a idéia de precisar ler “um livro
inteiro”. A atenção e a concentração, a capacidade de abstração
intelectual e de exercício do pensamento foram destruídas. Como esperar
que possam desejar e interessar-se pelas obras de arte e de pensamento?
Por
ser um ramo da indústria cultural e, portanto, por ser fundamentalmente
uma vendedora de Cultura que precisa agradar o consumidor, a mídia
infantiliza. Como isso acontece? Uma pessoa (criança ou não) é infantil
quando não consegue suportar a distância temporal entre seu desejo e a
satisfação dele. A criança é infantil justamente porque para ela o
intervalo entre o desejo e a satisfação é intolerável (por isso a
criança pequenina chora tanto).
Ora,
o que faz a mídia? Promete e oferece gratificação instantânea. Como o
consegue? Criando em nós os desejos e oferendo produtos (publicidade e
programação) para satisfazê-los. O ouvinte que gira o dial do
aparelho de rádio continuamente e o telespectador que muda
continuamente de canal o fazem porque sabem que, em algum lugar, seu
desejo será imediatamente satisfeito.
Além
disso, como a programação se dirige ao que já sabemos e já gostamos, e
como toma a cultura como forma de lazer e entretenimento, a mídia
satisfaz imediatamente nossos desejos porque não exige de nós atenção,
pensamento, reflexão, crítica, perturbação de nossa sensibilidade e de
nossa fantasia. Em suma, não nos pede o que as obras de arte e de
pensamento nos pedem: trabalho sensorial e mental para compreendê-las,
amá-las, criticá-las, superá-las. A Cultura nos satisfaz, se tivermos
paciência para compreendê-la e decifrá-la. Exige maturidade. A mídia nos
satisfaz porque nada nos pede, senão que permaneçamos para sempre
infantis."