Rádio Beatitudes

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Menino, o rei e o bom velhinho

POR: CNBBCard. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo - SP

No Natal, os cristãos comemoram o nascimento de Jesus Cristo. Aconteceu há cerca de 2 mil anos, quando ainda não se fazia registro do nascimento, com lugar, dia e hora; isso é bastante recente. Mas quem duvidaria que Jesus nasceu e existiu? Vinte séculos de testemunhos ininterruptos mantiveram viva sua memória, apesar das tentativas de apagar sua lembrança da história. Perseguições aos seus seguidores, regimes totalitários ou simplesmente movimentos culturais já se propuseram eliminar, depurar ou passar para a posteridade de maneira distorcida o legado de Jesus Cristo para a humanidade. Não conseguiram.

Isso já começou logo que Jesus nasceu. Conta-nos o evangelista São Mateus que o rei Herodes, encarregado romano de governar a Judeia, ao saber que em Belém havia nascido um menino, procurado e admirado por gente de toda parte, ficou assustado e quis saber mais sobre o pequeno: era Jesus, filho de Maria, casada com José, o Carpinteiro de Nazaré. Sábios e intérpretes das Escrituras Sagradas afirmavam ao rei que as profecias sobre o ressurgimento do reino de Davi apontavam para Belém e o futuro rei poderia ser esse mesmo, o pequeno que acabara de nascer. Herodes, enciumado e furioso, tentou eliminá-lo já no berço, mas não conseguiu; o bom José tomou o menino e sua mãe e fugiu com eles para o Egito. Enquanto isso, Herodes espalhava terror e luto em Belém e arredores, com a ordem para que todos os meninos abaixo de 2 anos de idade fossem mortos (cf Mt 2).

Nos primeiros tempos do Cristianismo, os cristãos comemoraram mais a Páscoa do que o Natal; o anúncio do Evangelho estava centrado sobretudo no significado dos padecimentos, da morte e ressurreição de Jesus, no início da pregação dos apóstolos e no surgimento prodigioso da Igreja. Aos poucos, porém, também foi incluída a reflexão sobre a origem de Jesus, seu nascimento e infância, que a Igreja comemora no Natal (cf Mt 1-2; Lc 1-2).

Teólogos e pregadores dos séculos seguintes elaboraram reflexões de extraordinária beleza e profundidade sobre esta primeira etapa da vida de Jesus, partindo da fé dos cristãos: nesse menino, o próprio Deus veio ao encontro da humanidade e assumiu nossa condição frágil e precária, para redimi-la e dar-lhe sentido e perspectiva de futuro. A Liturgia católica do Natal ainda conserva algumas dessas jóias, que o pensamento teológico lapidou naquela época: “ó Deus, nesta noite santa, o céu e a terra trocam seus dons... No momento em que vosso Filho assume a nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade!”

São Nicolau, um bispo do 4º século nascido em Mira, na atual Turquia, e cujo sarcófago está conservado na catedral de Bari, no sul da Itália, compreendeu isso muito bem: na festa do Natal, saía pelas ruas distribuindo presentes aos pobres, sobretudo às crianças. Queria, assim, compartilhar a festa e a alegria com todos porque o Natal de Jesus era um imenso presente de Deus para a humanidade inteira! Talvez nasceu aí a tradição dos presentes de Natal e da festa contagiante, que também hoje se faz.

Na Idade Média, São Francisco de Assis não se cansava de contemplar o “sublime mistério” do Natal: o Grande Deus veio a nós na simplicidade e na fragilidade de uma criança! Alguém poderia ter imaginado algo assim?! Ninguém mais precisa ter medo de se aproximar do Eterno! Os braços estendidos do menino são o abraço de Deus, que acolhe a todos com infinita ternura! Francisco, poeta e cantor da beleza, quis que a cena do Natal de Jesus, narrada nos Evangelhos, fosse percebida concretamente e “criou” o presépio, com a ambientação e os figurantes dos relatos bíblicos sobre o nascimento de Jesus. A tradição dos presépios no Natal espalhou-se rapidamente pelo mundo cristão.

Os tempos modernos deram-se conta de que o Natal tinha um apelo comercial muito bom e vendia bem! Natal virou coisa para comprar! E para promover melhor o seu consumo, foi criado um garoto-propaganda, chamado Papai Noel, o “bom velhinho”, de barbas brancas, botas, roupão vermelho e gorro de lã... Alguma coisa nele ainda lembra o bispo São Nicolau, de outros tempos, que distribuía presentes de verdade! Papai Noel saiu da fantasia, talvez de trenó puxado por renas imaginárias, lá dos espaços nórdicos, onde faz frio nesta época do ano. Mas deu-se muito bem nos trópicos também... Que importa um pouco de suor debaixo das pesadas roupas invernais? Doce fantasia, que encanta crianças e também agrada a adultos!

Natal se tornou a festa de Papai Noel. E o menino Jesus, onde ficou? Não era dele a festa? Será que o “bom velhinho” – hô-hô-hô -, na sua pachorra, vai conseguindo o que Herodes não conseguiu com sua ira - eliminar o menino da cena? Presépio? Em seu lugar, uma árvore enfeitada de desejos coloridos; duendes e bruxas, em lugar do menininho de braços estendidos; bichinhos da Disney em lugar dos pastores de Belém e suas ovelhas; e uma infinidade de pacotes e de doces em vez do ouro, incenso e mirra, oferecidos pelos reis magos ao menino Jesus!

Pois é... quase tudo como no começo! Quando Maria estava para dar à luz, José, muito aflito, batia de porta em porta e procurava um lugar em Belém para que o Filho de Deus pudesse nascer entre os homens. São Lucas informa apenas: “não havia lugar para eles”. Por isso, Jesus veio ao mundo num abrigo para animais, fora da cidade. Na cidade não havia lugar para ele. E, no entanto, continua atual o anúncio do anjo aos pastores nos campos gelados de Belém: “não tenhais medo! Eis que vos anuncio uma boa notícia, e será boa também para todo o povo! Hoje nasceu para vós um salvador, que é o Cristo, Senhor”! Mais atual do que nunca!

Publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. de 10.12.2011
 
Díponivel também em:
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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O que se omite,
sem coragem
O que não persiste
na sondagem
de um pequeno detalhe
não consegue fazer o entalhe
nem conhecer ou preencher
o íntimo de seu ser...

(Luzia Escongisk- 06-12-2011)
Preciso de algo
que dê sentido
ao amâgo
de meu ser pútrido

Talvez palavras...

Palavras  são quiméricas
deveras pretenciosas
indubitavelmente
são me penosas

Talvez amores...

Amores são inconstantes,
imprecisos,
por mais atraentes
que sejam (friso)

Talvez solidão...

Ninguém pode viver
como ermitão
e não morrer
na omissão

(Luzia Escongisk- 06/12/2011)
 Fonte: @djleoguimaraes

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sociedade caótica,
desestabilizada, psicótica
anarquica, neurótica

Fabrica, cria, produz

Pessoas perdidas,
sozinhas, iludidas,
uniformizadas, divididas

Pessoas que esqueceram
de pequenas gentilezas,
pessoas que padeceram
sem sua nobreza

Fabricam, criam, produzem

Uma sociedade monocromática,
simples degradê de cinza
sub, pseudo sintomática
cuja ação incisa

Fabrica, cria, reproduz.

Luzia Escongisk

30/11/2011