Rádio Beatitudes

domingo, 16 de março de 2014

-No meu céu não há lua,
Nem sequer estrelas
Para iluminar  a rua
Ou para dete-las.

-Dete-las quem?

-Minhas memórias,
Minhas histórias,
Minhas esperanças ilusórias...





sábado, 15 de março de 2014

Em meu rosto
estão as cicatrizes
[atrizes
Porém, raiva e desgosto
não são minhas diretrizes

O que escrevo
é livre de rancor
[cor
repleto do que vivo
temperado com êxtase e dor.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Considerações interessantes sobre a Indústria Cultural, por Marilena Chauí.



"Vale a pena, também, mencionar dois outros efeitos que a mídia produz em nossas mentes: a dispersão da atenção e a infantilização.
Para atender aos interesses econômicos dos patrocinadores, a mídia divide a programação em blocos que duram de sete a dez minutos, cada bloco sendo interrompido pelos comerciais. Essa divisão do tempo nos leva a concentrar a atenção durante os sete ou dez minutos de programa e a desconcentrá-la durante as pausas para a publicidade.
Pouco a pouco, isso se torna um hábito. Artistas de teatro afirmam que, durante um espetáculo, sentem o público ficar desatento a cada sete minutos. Professores observam que seus alunos perdem a atenção a cada dez minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa que dão a si mesmos, como se dividissem a aula em “programa” e “comercial”.
Ora, um dos resultados dessa mudança mental transparece quando criança e jovem tentam ler um livro: não conseguem ler mais do que sete a dez minutos de cada vez, não conseguem suportar a ausência de imagens e ilustrações no texto, não suportam a idéia de precisar ler “um livro inteiro”. A atenção e a concentração, a capacidade de abstração intelectual e de exercício do pensamento foram destruídas. Como esperar que possam desejar e interessar-se pelas obras de arte e de pensamento?
Por ser um ramo da indústria cultural e, portanto, por ser fundamentalmente uma vendedora de Cultura que precisa agradar o consumidor, a mídia infantiliza. Como isso acontece? Uma pessoa (criança ou não) é infantil quando não consegue suportar a distância temporal entre seu desejo e a satisfação dele. A criança é infantil justamente porque para ela o intervalo entre o desejo e a satisfação é intolerável (por isso a criança pequenina chora tanto).
Ora, o que faz a mídia? Promete e oferece gratificação instantânea. Como o consegue? Criando em nós os desejos e oferendo produtos (publicidade e programação) para satisfazê-los. O ouvinte que gira o dial do aparelho de rádio continuamente e o telespectador que muda continuamente de canal o fazem porque sabem que, em algum lugar, seu desejo será imediatamente satisfeito.
Além disso, como a programação se dirige ao que já sabemos e já gostamos, e como toma a cultura como forma de lazer e entretenimento, a mídia satisfaz imediatamente nossos desejos porque não exige de nós atenção, pensamento, reflexão, crítica, perturbação de nossa sensibilidade e de nossa fantasia. Em suma, não nos pede o que as obras de arte e de pensamento nos pedem: trabalho sensorial e mental para compreendê-las, amá-las, criticá-las, superá-las. A Cultura nos satisfaz, se tivermos paciência para compreendê-la e decifrá-la. Exige maturidade. A mídia nos satisfaz porque nada nos pede, senão que permaneçamos para sempre infantis."

Fonte: “Convite à Filosofia” de Marilena Chauí, Ed. Ática, SP, 95, p. 329/333

domingo, 12 de janeiro de 2014

Compor
a canção do amor
a melodia da dor
Compor
o poema da melancolia
o poema da nostalgia...
Seguir a risca
os cantos da rebeldia
por uma via
de mão dupla.
De quem foi a culpa?
 Quem guia?
Quem segue?
Quem prossegue...
a procurar a luz que cegue
ou a linha que rege...
Talvez em algum olhar
 consiga vislumbrar
essa sina, esse penar
Talvez esse caminhar
leve a algum lugar
onde possa pernoitar
ou quem sabe apenas ficar...